[Teste Kurta] - Kazuma

Grimsbane escreveu:

Kazuma havia saído do vilarejo havia meia hora. O Sol tingia o céu com tonalidades quentes, anunciando o fim da tarde. Ele só tinha que buscar alguns medicamentos. A missão não parecia particularmente difícil, mas se não fosse, seu irmão mais novo jamais teria sido reprovado nesse mesmo trabalho. A verdade é que Kazuma já tinha idade para realizar o teste fazia anos, mas nunca teve interesse. Ele gostava de lâminas e ervas medicinais, mas ainda que fosse um garoto inteligente, lhe faltava instrução. E havia um problema maior ainda: ele ficava extremamente ansioso ao ver sangue. Quando menor, seu pai morreu em sua frente, após sangrar até a morte por um rasgo no peito. Aquela visão ficou gravada em sua retina, como uma cicatriz.

Ele ainda conseguia ver sangue em pequenas quantidades, mas qualquer ferimento grave que fazia jorrar sangue deixavam seus olhos vermelhos de imediato. Era por isso que nunca tinha conseguido um instrutor... por mais talentoso que fosse, um espadachim ou curandeiro veria sangue constantemente em seu serviço. Havia, porém, um membro do vilarejo que disse que poderia ensiná-lo. Mas para isso havia uma condição: ele teria de passar no teste dos Kurta.

Sua mãe e seu irmão mais novo, que já tinha falhado no teste, eram contra, mas nem tentaram convencê-lo. Eles já tinham aprendido que o jovem era uma pessoa difícil de convencer. Quando colocava algo na cabeça, só a morte poderia impedi-lo. Nem uma única pessoa no vilarejo, no entanto, acreditava que ele passaria no teste, afinal, ver sangue era uma ocorrência demasiadamente comum. Apenas o próprio Kazuma acreditava... e convenhamos, a única coisa mais satisfatória do que estar certo é provar que todos os outros estão errados!

Achei! – ele coletava uma erva verde escura de folhas serradas com pontinhos pretos. Ele sorria ao encontrar o que estava procurando: um veneno paralisante potente. Apenas algumas gotas do líquido que continha na planta era suficiente para derrubar um homem adulto. Era uma erva complexa de se utilizar, pois ela era facilmente confundida com outra erva verde escura também com pontinhos pretos em sua folha. Ao contrário da planta que Kazuma carregava em mãos, essa outra era ciliada e servia como medicamento. Já que não tinham estabelecido um limite de tempo, ele pôde gastar um pouco para procurar essa belezinha e fez questão de passá-la em sua Katana. 

Achando o que procurava, ele caminhou para a trilha principal. Em momento algum ele cogitou seguir por fora da trilha, buscando se esconder dos perigos. Para Kazuma, não bastava passar no teste, ele queria provar que conseguiria superar mesmo os problemas mais difíceis. Ele estava torcendo para ser atacado e... foi justamente o que aconteceu em menos de vinte minutos de caminhada. Haviam dois bandidos, um magro com uma cicatriz e um outro musculoso, com uma tatuagem no rosto. O maior deles tentou intimidar o garoto, mas infelizmente ele já estava esperando por isso. Ele puxou um pano preto de uma pequena mochila que carregava, onde pretendia guardar os medicamentos, amarrando o pano ao redor de seus olhos e cobrindo sua visão. Kazuma não conseguia enxergar os bandidos, mas ele tinha certeza que a expressão no rosto deles teria sido muito divertida.

O que os olhos não veem... o coração não sente! Com o auxílio de seu irmão, ele treinou arduamente com uma venda pensando em situações como essa. Sua falta de olfato lhe impedia de reconhecer sangue pelo faro... e a visão? Bem, a venda solucionava seu problema. Anos de preparo finalmente renderiam bons frutos. Desembanhando sua Katana, ele saltou em alta velocidade em direção à posição que o bandido musculoso estava. O homem tentou bloquear o golpe, mas a situação confusa tinha lhe tirado a capacidade de raciocinar rapidamente. Um pequeno corte em seu braço foi suficiente, e Kazuma saltou para trás no instante seguinte. Em poucos segundos, o homem caiu no chão, paralisado. O outro, ainda mais confuso, colocou a mão sobre seu colega e chamou seu nome... revelando sua posição com a voz. Em outro salto ofensivo, um corte um pouco mais profundo do que foi a intenção de Kazuma cortou-lhe no peito, derrubando o homem pouco tempo depois.

Terminando o combate, ele brandiu a espada uma última vez, desferindo um corte no ar, que servia para limpar o sangue de sua lâmina. Ele então guardou-a em sua bainha, se virando em direção à trilha. Ele falou aos dois bandidos, sem olhar diretamente para eles. Se eu encontrar os dois aqui de novo... eu mato vocês. – era um blefe, claro, mas eles certamente sabiam agora que o jovem tinha tal capacidade. Sem que pudessem responder por conta da paralisia, ele retirou a a venda e caminhou em direção à cidade. Tinha acabado de anoitecer quando Kazuma alcançou uma pequena casa que parecia vender os itens que desejava. Entrando nela, ele encontrou um senhor de idade atrás do balcão. Boa noite. Vim buscar alguns medicamentos. – o garoto entregava para ele uma pequena notinha com o nome dos remédios.

O velho encarou o jovem, e por um momento a expressão dele pareceu se contorcer em um leve sorriso. Em razão de sua visão aguçada, Kazuma reparou nisso, mas para ele, a parte mais difícil da missão tinha passado. Ele estava sorridente demais só de imaginar os rostos de todo mundo quando ele retornasse ao vilarejo. É claro. Infelizmente, tenho que ver se temos um deles no estoque... poderia me seguir até os fundos? – o velho solicitou com um rosto inocente. Kazuma, que recebeu uma boa educação e estava confiante em sua força, nem suspeitou.

Havia, porém, uma crueldade do destino que o garoto gentil jamais poderia ter previsto. Seu irmão tinha falhado no teste e acabou revelando os olhos escarlate a esse mesmo homem. O senhor de idade reconheceu a semelhança na aparência de Kazuma e seu irmão, sem falar na lista parecida de medicamentos. O garoto deu azar de escolher a mesma loja de remédios e percebeu tarde demais que se tratava de uma armadilha. Seus olhos acenderam em uma cor vermelho rubra antes de ser assassinado. O velho, um traficante infame de substâncias perigosas, ficou rico de um dia para o outro. Kazuma nunca mais foi encontrado e seu irmão, Yusuke, nunca descobriu ter sido parcialmente responsável pela morte de seu irmão.